Perdi-me
Perdi-te. E perdi-me.
Na dor de não me veres amadurecer.
Na dor de não ter os teus braços para embalar a minha filha.
Perdi-me, depois de te perder.
Procurei-te nos silêncios. Nas gargalhadas.
Nos conselhos que ficaram para dar.
Nas conquistas que não pudeste celebrar.
Perdi-me, porque te perdi para sempre.
E por isso fez-se de pedra, a areia. E do desalento, a coragem.
Aprendi a secar as lágrimas com os ponteiros do relógio.
E a calar a saudade com a vida que já foi.
Perdi-me. Tempos a fio.
Mas soube encontrar-me. E encontrar-te.
Nos detalhes. Nos pormenores.
Nas expressões. Nos gestos. No espelho.
Hoje estás, certamente, nos braços de Deus.
E eu, minha Mãe, estou nos teus.
Onde me aninho à noite, quando fecho os olhos e adormeço.