Doces beijos teus
Sabem a algodão doce.
E a bolo de chocolate.
Podem ser de caramelo ou de morango.
Açucarados. Repletos de doçura.
Sem azedo ou salgado.
Esses beijos teus.
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A Sardinha Pequenina tem como propósito contar histórias de gente real, aliando o poder da palavra escrita à qualidade e originalidade dos produtos. As pessoas reais inspiram-nos!
Sabem a algodão doce.
E a bolo de chocolate.
Podem ser de caramelo ou de morango.
Açucarados. Repletos de doçura.
Sem azedo ou salgado.
Esses beijos teus.
Preparo a cana e lanço-a.
Puxo com força enquanto cerro os olhos.
Pesco um foguetão. Vejo um planeta também.
Atiro novamente. E pesco um palácio.
O meu avô sorri e diz-me para lançar novamente.
Durante a pescaria, ou enquanto o pião roda no chão, encontro sonhos.
Pesco-os. Desenrolo-os.
E o avô vai colorindo o meu mundo.
Grita e sorri. Bate palmas.
Inventa e constrói. Arranja e desmancha. Faz de conta.
Este avô que é também criança quando ao meu lado se senta.
E que cerra os olhos para guardar no coração os momentos que vive comigo.
Avô Tó usa boina e camisa aos quadrados.
Põe as mãos nos bolsos e, a assobiar, desce a rua.
Lá vai ele: pequeno e ligeiro.
Deixa em casa a esposa: fica a arrumar a cozinha e a tratar da roupa.
Ele dá-lhe um beijo, bate a porta e começa a caminhar.
Aguardam-no na rua. Sempre à mesma hora. Faça sol ou chuva.
Todos os dias discute a meteorologia, critica o Ministro das Finanças e debate as últimas notícias.
É presença assídua no café do bairro. No banco vermelho da rua. Na mercearia do canto.
Está sempre atualizado. Sabe sempre tudo. Tem sempre razão.
Avô Tó é teimoso. Chateia-se com o vizinho. Arrelia-se com o compadre.
Resmunga, amua e volta, de mãos nos bolsos, para casa.
Mas, no outro dia, lá vai ele novamente.
Avô Tó gosta de contar histórias. Sabe muitas!
Coloca o neto nos joelhos e conta-lhe, durante horas a fio, histórias de antigamente.
Fala-lhe sobre tudo. Descreve pessoas e lugares. Refere pormenores.
Todos os dias, uma nova história.
Avô Tó é mistura de resmunguice e doçura. Teimosia e imaginação.
Avô Tó é velho quando sai à rua.
Mas é novo quando se perde nas suas histórias e se imagina novamente no mar.
Quando se imagina novamente a descer a rua a correr.
Quando se imagina menino nos joelhos do seu pai, a ouvir histórias de antigamente.