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Sardinha Pequenina

A Sardinha Pequenina tem como propósito contar histórias de gente real, aliando o poder da palavra escrita à qualidade e originalidade dos produtos. As pessoas reais inspiram-nos!

O menino

22.11.23

Ouvi dizer que nasceu.

Menino cheio de luz.

Menino feito de esperança.

Veio trazer bondade.

E lembrar-nos do que somos feitos.

 

Na noite mais fria, pedi-lhe que te levasse fé.

Para que nunca te falte quando a estrada for sinuosa. 

Sussurrei, perante todas as estrelas do céu, que te levasse o meu abraço.

Para que o possas receber quando te lembrares dos dias velhos. 

E confessei-lhe a minha vontade de embrulhar o teu amanhã em felicidade.

Em desejos concretizados. Em momentos inesquecíveis.

Hoje

15.11.23

Hoje celebro.

A tua amizade. O teu afeto.

Saboreio a doçura de te ter ao meu lado.

E festejo a tua presença na minha vida.

 

Hoje peço por ti.

À estrela mais brilhante. E na noite mais mágica.

Para que te dê paz.

Para que nunca te falte carinho.

Para que te guie no caminho.

E para que sejas feliz.

Laços

07.11.23

És minha.

Pedaço do meu coração.

Embrulhado em ternura.

Pertences ao meu mundo.

E eu ao teu.

Num laço feito por quem nos uniu.

Por quem nos confiou uma à outra.

Somos colo. Somos amparo na jornada. Somos cuidado.

Somos o ontem e o amanhã.

Honro a promessa que fiz.

E serei, para sempre, tua cúmplice.

Perdi-me

10.10.23

 

Perdi-te. E perdi-me.

Na dor de não me veres amadurecer.

Na dor de não ter os teus braços para embalar a minha filha.

Perdi-me, depois de te perder.

Procurei-te nos silêncios. Nas gargalhadas.

Nos conselhos que ficaram para dar.

Nas conquistas que não pudeste celebrar.

Perdi-me, porque te perdi para sempre.

E por isso fez-se de pedra, a areia. E do desalento, a coragem.

Aprendi a secar as lágrimas com os ponteiros do relógio.

E a calar a saudade com a vida que já foi.

 

Perdi-me. Tempos a fio.

Mas soube encontrar-me. E encontrar-te.

Nos detalhes. Nos pormenores.

Nas expressões. Nos gestos. No espelho.

Hoje estás, certamente, nos braços de Deus.

E eu, minha Mãe, estou nos teus.

Onde me aninho à noite, quando fecho os olhos e adormeço.

As Mães

04.07.23

Deus guarda as Mães num sítio especial.

Principalmente aquelas que partem demasiado cedo.

Aquelas que deixam quem tanto precisa delas.

Aquelas que deixam beijos e abraços para dar.

Deus guarda as Mães entre anjos e estrelas.

Num céu branco e azul. Numa varanda brilhante. 

Torna-as eternas guardiãs.

Testemunhas de vidas que se vão desenrolando.

Deus guarda as Mães bem junto de si. Num local privilegiado.

Onde não há dor. Onde não há tormenta.

E daí observam. Cuidam. E rezam.

Porto seguro

14.06.23

Um joelho magoado.

A boneca que se parte.

Ou a bola que se perde.

Choram enquanto correm. Rumo a porto seguro.

Onde encontram o olhar atento.

O sorriso aberto. O colo repleto de ternura.

E as palavras certas: vou cuidar de ti!

Com cores fazes uma máscara. Do livro nasce um dragão.

E ao som da música que entoas, eu cresço feliz.

Caminho de cores

07.06.23

Toc, toc. Quem será?

Princesa ou fada? Duende ou gigante?

Voa um avião de papel.

E ela espreita de mansinho.

Entra a gargalhar. Na mão, um livro de histórias.

Lápis e pinturas. Jogos e brincadeiras.

Sorri e pede a minha mão.

Começo a caminhar. Ela segue perto de mim.

No caminho, vejo pedras com as cores do arco-íris.

Cheira a primavera.

Oiço música alegre e vozes de crianças.

Ela mostra-me tudo. Apela à minha atenção.

Sem nunca largar a minha mão.

Sem que eu saiba que, durante o caminho, ela vai regar-me: como uma flor.

Sem que eu saiba que, graças ao seu afeto e cuidado, eu vou crescer e aprender.

Educação

31.05.23

Conhece as letras.

Sabe os números de cor.

Gosta de ensinar. Gosta de ver crescer. E desabrochar.

Demonstra de mil maneiras.

Desperta a criatividade com múltiplas cores.

Cativa. Incentiva. Envolve. Inspira.

Das dúvidas faz crescer a motivação.

Ensina o passado, dando forma ao futuro.

E no quadro escreve liberdade.

No seu coração, acredita que a educação tem poder.

Para mudar os homens. Para mudar o mundo.

E para fazer do amanhã um dia melhor.

Inspiração: eu vou encontrar-te!

26.05.23

Pego no papel e na caneta. Escrevo e risco. Não surgem ideias. Não consigo encontrar as palavras certas. Escrevo novamente. Leio e não gosto. Apago e suspiro. Também já passou por isto? Acredito que sim! 

Muitas pessoas acreditam que escrever é fácil e que os autores se sentem sempre inspirados. No entanto, tal não é verdade. A falta de inspiração afeta todos os escritores, podendo até desmotivá-los. 

Também eu sofro de tal mal. Em determinados momentos, sinto que a inspiração chega e as ideias surgem umas atrás das outras. Em tal quantidade, que me sinto assoberbada. Por outro lado, em alguns dias, risco e rabisco e não consigo escrever conteúdos que me agradem.

Com o tempo, tenho vindo a aprender a lidar com a falta de inspiração e julgo ter encontrado formas de procurá-la ativamente. Por isso, partilho algumas dicas:

 

1 - A inspiração está em todo o lado: procure-a. Quando não me sinto inspirada, centro a minha atenção no que me rodeia. Oiço com atenção redobrada as pessoas. Analiso cuidadosamente os momentos que vivo. Faço pesquisas. Penso sobre os livros que me apaixonam. Sinto verdadeiramente a música.

 

2 - A inspiração surge da prática. É comum pegar no papel e na caneta sem ter qualquer ideia formada. No entanto, à medida que vou escrevendo, a inspiração surge. Quanto mais escrever, melhor.

 

3 - A inspiração precisa do local e das ferramentas adequadas. Papel e caneta ou computador? Depende. No escritório, em casa ou em um café? Depende. É importante perceber em que ambiente e com que ferramentas pode produzir mais. Se está um dia de sol, agarre no bloco e no lápis e vá até à rua. Escreva enquanto aproveita o calor do sol. Precisa de espaço e de silêncio? Escolha um local confortável e calmo e é muito provável que encontre a inspiração. 

 

4 - A inspiração surge discretamente e em momentos inesperados. Por este motivo, anote todas as ideias que surgirem. Desta forma, nos dias em que se sentir desinspirado, poderá recorrer ao bloco de notas. Será certamente mais fácil começar a escrever algo que seja do seu agrado.

 

Acredito que a inspiração não é um privilégio só para alguns. Todos podemos viver inspirados. Tal depende da capacidade de cada um olhar em seu redor e ver os outros. De ouvir histórias. De sentir profundamente. A inspiração está em todo o lado: encontre-a!

 

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Escreve quem não tem medo

11.05.23

Escreve quem não tem medo. 

De fazer do texto porta aberta para o coração.

De expor fragilidades, crenças e anseios.

Escreve quem age por amor. E por coragem.

Porque não consegue conter a palavra dentro dos muros de si mesmo.

Porque não consegue viver sem a riqueza do livre pensamento.

Escreve quem se inebria com a textura do papel e a essência do carvão.

Quem imprime o medo no papel. E quem traça os sonhos com tinta colorida.

Escrita sensorial: narrativas com cinco sentidos

19.04.23

As narrativas podem ser escritas recorrendo a diferentes técnicas. Uma das mais utilizadas é a técnica da escrita sensorial. Na escrita sensorial, o autor utiliza linguagem descritiva, recorrendo para tal aos cinco sentidos - visão, audição, paladar, olfato e tato – para oferecer ao leitor uma perceção física, estimulando a sua imaginação. Ao ler uma descrição sensorial, a memória é também estimulada pois o leitor fará uso das lembranças que tem para percecionar todos os detalhes oferecidos no texto. A criação de empatia entre o leitor e as personagens é igualmente potenciada pela escrita sensorial, uma vez que esta técnica é capaz de despertar diferentes sentimentos, oferecendo uma experiência mais imersiva e realista ao leitor.

 

Aprender com um exemplo

Frase A: “A Dulce abriu a porta de casa e verificou que estava muito calor na rua.”

Frase B: “A Dulce abriu serenamente a porta de casa, olhou para o céu azul, sentiu o doce aroma das flores e o sol imediatamente aqueceu o seu corpo.”

 

Na primeira fase, o leitor fica a saber que a Dulce abriu a porta de casa e que verificou que estava muito calor na rua. O autor do texto não oferece detalhes adicionais que permitam ao leitor vivenciar de forma mais intensa o que lê.

Na segunda frase, o escritor entrega ao leitor a possibilidade de imaginar o céu azul, o aroma floral e o calor que Dulce sentiu ao abrir a porta de casa. O leitor tem na sua posse vários detalhes que lhe permitem facilmente imaginar uma mulher serena que, ao abrir a porta de casa, se delicia com o que descobre.  

 

Vale a pena referir que a técnica dos cinco sentidos é muito aplicada na escrita criativa. No entanto, também é possível encontrar esta técnica em outro tipo de conteúdos escritos como, por exemplo, textos com fins publicitários.

Sabemos que as narrativas que não recorrem à escrita sensorial tendem a ser demasiado simples. No entanto, o excesso de descrições sensoriais pode também tornar a narrativa monótona e extremamente cansativa, fazendo com que o leitor se distraia facilmente. Por isso, adjetivos e detalhes desnecessários devem ser evitados, bem como os clichês.  O autor deve utilizar a escrita sensorial de forma moderada, adaptando-a sempre ao tipo de conteúdo produzido. Um escritor de uma história de amor poderá basear-se no tato para descrever vários episódios. Por outro lado, se o conteúdo escrito é uma história de terror, a audição poderá ser o sentido mais explorado.  

 

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Os olhos da minha Mãe

05.04.23

Nos olhos da minha Mãe encontro tudo.

Colo. Beijos.

Histórias. E cantigas de embalar.

Nos seus olhos encontro paz.

Aconchego. Guarida.

Amor. E perdão.

Os olhos da minha Mãe são imensos.

Neles, a coragem.

A sabedoria. E a sensatez.

São capazes de falar. E de sorrir também.

São infinitos. E neles cabem todas as estrelas do céu.

A Mãe, segundo Deus

31.03.23

Na língua de Deus,

Mãe escreve-se com o brilho das estrelas,

amor infinito

e um punhado de carinho.

Deus deu à palavra Mãe

o aroma das flores

e a doçura do mel.

Quis Ele que Mãe fosse especial

e por isso ordenou aos anjos que distribuíssem

afeto e valentia a quem usasse a palavra

para que, na terra, se saiba que os braços de uma Mãe

são os braços de Deus.

Quatro Cantos

30.03.23

Estas ruas são estreitas.

Mas nelas cabe o carteiro.

E o funcionário que varre.

Cumprimentam quem passa.

Quem contempla as cores e as formas.

Quem observa a mistura do velho e do novo.

Saberão que estas ruas são velhas?

Tão velhas que têm gravadas mil histórias?

Eu ainda vejo a velha latoaria do Tibita e do Toneca.

Trago em mim os cheiros. E a recordação do espaço.

A loja do Darvim está aberta.

Eu, menina, estou junto à montra a ver as noivas saírem da Igreja de São Pedro.

Na barbearia, junto ao café, apara-se o cabelo e o bigode.

Os vizinhos abastecem-se no talho do prédio Americano.

Lá ao fundo, a Fortaleza. E o mar – aqui tão perto.

Hoje sobra pouco. Sobra a mercearia do João da Galvoa. Resistiu ao tempo.

Nela julgo ver a minha avó com a menina neta de mãos dadas.

Trazem os sacos cheios. E enquanto caminham, vão deixando parte de si nas ruas.

Elas estão gravadas nestes Quatro Cantos - agora tão transformados pelo tempo.

E são, inevitavelmente, parte da minha pele.

Alguém que lhes diga

24.03.23

Alguém que lhes diga que a esmola não satisfaz.

Não resolve. E não cala.

Quem trabalha. Quem tem filhos. E quem tem sonhos.

Alguém que lhes diga que a esmola não satisfaz.

Não apaga a lágrima de quem se vê com pouco.

Não silencia o grito da fome. E não faz desaparecer o desespero.

Alguém que lhes diga que a esmola não satisfaz.

A criança a quem não se pode dar mais.

O jovem que trabalha e que quer um mundo justo.

O velho reformado que quer viver com decência.

Alguém que lhes diga que a esmola não satisfaz.

Só a paz. A justiça. E a dignidade.