Avô Tó
Avô Tó usa boina e camisa aos quadrados.
Põe as mãos nos bolsos e, a assobiar, desce a rua.
Lá vai ele: pequeno e ligeiro.
Deixa em casa a esposa: fica a arrumar a cozinha e a tratar da roupa.
Ele dá-lhe um beijo, bate a porta e começa a caminhar.
Aguardam-no na rua. Sempre à mesma hora. Faça sol ou chuva.
Todos os dias discute a meteorologia, critica o Ministro das Finanças e debate as últimas notícias.
É presença assídua no café do bairro. No banco vermelho da rua. Na mercearia do canto.
Está sempre atualizado. Sabe sempre tudo. Tem sempre razão.
Avô Tó é teimoso. Chateia-se com o vizinho. Arrelia-se com o compadre.
Resmunga, amua e volta, de mãos nos bolsos, para casa.
Mas, no outro dia, lá vai ele novamente.
Avô Tó gosta de contar histórias. Sabe muitas!
Coloca o neto nos joelhos e conta-lhe, durante horas a fio, histórias de antigamente.
Fala-lhe sobre tudo. Descreve pessoas e lugares. Refere pormenores.
Todos os dias, uma nova história.
Avô Tó é mistura de resmunguice e doçura. Teimosia e imaginação.
Avô Tó é velho quando sai à rua.
Mas é novo quando se perde nas suas histórias e se imagina novamente no mar.
Quando se imagina novamente a descer a rua a correr.
Quando se imagina menino nos joelhos do seu pai, a ouvir histórias de antigamente.