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Sardinha Pequenina

A Sardinha Pequenina tem como propósito contar histórias de gente real, aliando o poder da palavra escrita à qualidade e originalidade dos produtos. As pessoas reais inspiram-nos!

Menina Mãe

03.10.22

Precisas de colo?

Onde deitar as lágrimas.

Onde deixar a menina que deixaste de ser.

Onde encontrar a mulher que agora nasce.

Onde largar o corpo que antes era só teu.

 

Precisas da minha voz?

Para te garantir que não há caminhos certos e errados.

Para te segredar que também tu brotaste agora.

Para te dizer que, pouco a pouco, vais descobrir ser o mundo.

 

Precisas da minha mão?

Quando o cansaço se apoderar de ti.

Quando a solidão te assombrar. E o medo de falhar.

Para garantir que não te perdes nesse estreito caminho.

Onde segues descalça e frágil. A aprender a ser.

 

Precisas do meu silêncio?

Capaz de te abraçar quando sentires as dores do teu filho.

E sentires que são tuas, afinal.

Quando nos teus ombros sentires o peso de seres mais.

E quando descobrires que afinal, só tu bastas.

 

Ao teu filho. E a ti.

Essa gente

13.09.22

Gosto de gente desalinhada. Que teima em desenhar as suas próprias rotas. Que dança pela vida. Que canta em dias de chuva. E que se emociona com gestos simples.  

 

Gosto de gente que surpreende. Que, por parecerem ser nada, são tudo. Pelo que são. Pelo que dão.

 

Gosto de gente com voz. Com alma. Com mente irrequieta. Gente que é gente. Que faz da sinceridade coluna vertebral. E da valentia o compasso do coração.

 

Gosto de gente de sorriso fácil. De lágrima honesta. De olhos que falam. Gente que grita. Que sorri. Que chora. Que erra. Que beija. Que abraça. Que perdoa.

 

Gosto de gente cujos pedestais são feitos de respeito dos outros. Construídos com o carinho daqueles que conquistaram. Certamente essa gente, que é gente especial, vive mais perto do céu por fazer a diferença na terra.

Escrita terapêutica: como matar fantasmas com papel e lápis?

28.07.22

Já agarrou num papel, num lápis e escreveu livremente? Sem se preocupar com julgamentos, com a estrutura do texto ou com as regras gramaticais? Sentiu que, após escrever, o coração ficou mais leve e a mente mais organizada? Então já experienciou os benefícios da escrita terapêutica!

A escrita terapêutica consiste no ato de utilizar a escrita como ferramenta de terapia, uma vez que através dela é possível aprender a lidar com a ansiedade, aumentar o autoconhecimento, compreender emoções e detetar necessidades. 

Foi na escrita que eu me (re)encontrei: pessoal e profissionalmente. Por esse motivo, mantenho alguns hábitos que me ajudam a produzir regularmente conteúdo - muito do qual é partilhado através da Sardinha Pequenina - e que aqui partilho:

1) Escolho um local e momento para escrever: eu escrevo quase sempre à noite e em silêncio. Quando todos estão a dormir, eu pego no papel, no lápis e escrevo. É a fase do dia em que me sinto mais capaz de partilhar o que sinto e o que penso.
2) Registo todas as ideias: os temas sobre os quais escrevo surgem naturalmente ao longo do dia. Para não me esquecer de nenhum tópico, uso o telemóvel ou um pedaço de papel para registar as ideias e mais tarde, com calma, escrevo sobre elas.
3) Escolho o suporte onde quero escrever: eu elegi um pequeno caderno verde. Mais tarde, após escolher os textos que quero partilhar publicamente, escrevo-os no computador. 
4) Escrevo sem regras e sem julgamentos: quando escrevo, faço-o sem "filtros". Escrevo de forma simples e sem medo do que outros poderiam pensar ao ler os meus textos. 
5) Respeito o meu próprio tempo: nem sempre consigo escrever quando quero. Quando assim acontece, paro e tento mais tarde. 

Acredito que escrevemos para descobrir quem somos, para (re)inventarmos as nossas vidas e para matarmos os nossos fantasmas. Por isso, escreva. Vai valer a pena!

A neta da minha avó

06.07.22

A neta da avó nasceu.

E os dias não mais foram iguais.

Tal como o céu. Tal como o aroma das flores.

Tudo mais belo. E intenso.

 

A neta da avó tornou-se tesouro precioso.

Protegida. Amada. Cuidada.

E o coração tornou-se casa: onde todos os momentos se encaixavam.

 

A neta da avó cresceu.

Ao ritmo das cantigas de sempre.

A molhar os pés na água da mangueira.

A misturar sabores com a colher de pau.

A ensopar o pão na tigela de leite.

A deleitar-se com gemas com açúcar.

A fazer magia com as claras, transformando-as em castelos deslumbrantes.

 

A neta da avó embarcou em aventuras.

Em pequena, num autocarro que percorria a cidade, fingia voar.

Já grande, aos ombros da vida corrida, guardava na memória o toque dos velhos caracóis brancos enrolados nas suas pequenas mãos de cabeleireira.

E nesse momento sabia que podia ser quem quisesse: cabeleireira ou heroína.

 

Hoje, a neta da avó deve-lhe muito.

Deve-lhe, principalmente, a lembrança dos seus eternos olhos verdes.

Cheios do mundo que quis ver e contar à sua neta.

Cheios de dignidade que a dura sina lhe impôs.

Mas sempre, sempre, cheios de amor.

 

A neta da avó guardará, para sempre, memória sua.

Sou eu a neta. E tu, a minha Avó.

Neto

05.07.22

Um neto é um livro de aventuras.

Nele, um pirata. Um príncipe. Um ninja.

Audaz espadachim. Valente herói.

 

Um neto é uma surpresa constante.

Assombro ao contemplar as cores do arco-íris.

Fascínio ao observar as mil texturas dos insetos.

 

Um neto é doçura.

Prazer de um beijo peganhento.

Gargalhada ao ver um bigode de leite.

E o nariz pintado de massa de bolo.

 

Um neto é carinho.

É a mão na mão.

E o abraço onde cabe o mundo inteiro.

Aqui, para mim

01.06.22

Pelo tempo. Pela atenção.

Pelo cuidado. Pelo carinho.

Pelo abraço. Pelo beijo.

Pelos sorrisos. Pelas gargalhadas.

Pelas lágrimas partilhadas.

Pelas imperfeições – minhas e tuas – que decidimos moldar.

Pelos conselhos. Pelos momentos.

Pelas conversas. E pelos silêncios.

Nos dias de sol. Nos dias de chuva.

Por estares aqui. Para mim. Sempre.

Obrigado!

Treinador

24.05.22

Rola a bola.

Saltitona e inquieta.

Desenhas no papel a tática.

E, feito mágico, transformas o melhor de mim em resultados.

Num campo em que a igualdade e a tolerância fazem parte da estratégia e são garantia de vitória.

Leio no teu rosto a alegria de me veres crescer.

Neste campo que é maior do que as quatro linhas que o limitam, ajudas-me a ter um coração que bate no compasso certo: no desporto e na vida.

Professora

23.05.22

Contigo aprendi.

Os números. As letras.

Hoje sei mais sobre o mundo.

Hoje sei mais sobre tudo.

Hoje sei, principalmente, que o carinho traz ensinamentos que duram para sempre.

Cada lição regada de paciência.

Cada aula repleta de ternura.

Pescador de sonhos

05.04.22

Preparo a cana e lanço-a.

Puxo com força enquanto cerro os olhos.

Pesco um foguetão. Vejo um planeta também.

Atiro novamente. E pesco um palácio.

O meu avô sorri e diz-me para lançar novamente.

Durante a pescaria, ou enquanto o pião roda no chão, encontro sonhos.

Pesco-os. Desenrolo-os.

E o avô vai colorindo o meu mundo.

Grita e sorri. Bate palmas.

Inventa e constrói. Arranja e desmancha. Faz de conta.

Este avô que é também criança quando ao meu lado se senta.

E que cerra os olhos para guardar no coração os momentos que vive comigo.

Embalo

01.04.22

Enquanto a embalo, ela olha fixamente para mim.

O que procura ela?

Lê nas marcas do meu rosto o que sinto por ela.

Vê nos meus olhos o meu coração.

Repara no sorriso que não consigo esconder.

E ouve a ligeira canção que eu vou trauteando.

É um olhar sem critica. É um olhar que não dói. É um olhar que não me quebra.

Enquanto a embalo, até que os olhos dela cedam finalmente, a minha filha fita-me.

E naquele olhar, entre nós, quero partilhar o mundo com ela.

E naquele aconchego só nosso, quero dizer-lhe que a embalarei sempre.

Com carinho.

E cantarei. Cantarei sempre.

Para a embalar. Para a confortar. Para lhe dizer que a amo.

Porque és Mãe

30.03.22

No meio do meu próprio caminho, eu finalmente percebi.

Descobri o motivo para seres dona dos dias.

De dias que se prolongam para lá das horas.

Entendi porque é que és capaz de tudo. Por todos.

Mesmo sabendo que as dúvidas te assolam. Te atormentam.

Entendi porque é que és perfeita em tudo. E igualmente imperfeita.

Capaz de desempenhar tantos e diferentes papéis.

Capaz de ires das lágimas às gargalhadas. Do grito ao colo.

Nunca tinha percebido como era possível amares tanto.

Como se o teu coração fosse um fundo poço. Túnel sem fim.

Apesar dos teus dilemas. Das tuas vontades. Dos teus desejos.

Que sempre conciliaste com os de tantos.

Por vezes em segundo plano. Mas sempre atriz principal.

 

És assim. Porque és Mãe.  

E só agora o sei porque também eu o sou.

Peito aberto

20.03.22

Desfaço-me. Enlaço-me. Refaço-me.

As vezes necessárias.

Sempre que a vida o determinar.

Sempre com coragem para avançar.

Para refazer planos.

Para desfazer nós.

Para fazer caminho.

De peito aberto.

Com coragem. Com valentia.

Sempre meu

07.03.22

Como nasci? De que são feitas as estrelas?

Mil vezes as perguntas. Mil vezes as respostas.

Sorri. E conta-me histórias.

Mostra-me fotos.

Senta-te ao meu lado.

Dá-me a mão.

Baloiça-me.

E dá-me beijos.

Sempre meu. Meu Pai. 

Carta ao meu velho pai

13.02.22

Pai, eu oiço a tua voz. Sinto o teu toque.

Quando estás perto, sinto o bater acelerado do coração da mamã.

Sei que estás aqui. Ansioso por conhecer-me. 

 

Pai, embala-me. Por aqui. Por ali. Durante longas horas.

Aconchega-me nas noites frias. Cuida de mim. E da mãe. 

Coloca-me nas tuas costas e vamos passear. 

Deixa-me gargalhar contigo. Sê o meu herói.

 

Pai, deixa que eu cresça rodeada de amor.

Apesar da curiosidade, da rebeldia e da insensatez: características da juventude.

Dá-me a certeza do teu conselho. Dá-me a certeza do teu carinho.

Para que não me perca. Para que encontre sempre rumo.

Dá-me espaço. Mas garante que nunca me sentirei só.

 

Pai, agora que caminho sozinha, e que da tua casa parti, não me largues.

Trilho a estrada com a certeza de que sei bem a tua morada.

Porque a ela rumarei sempre. Para ouvir o teu conselho. Para colher a tua sabedoria.

 

Pai, como és belo quando sorris. Ao ver os teus filhos. Ao ver os teus netos.

Tens nas tuas mãos as marcas da tua história. Da nossa história.

Trazes contigo as recordações. Os locais, as pessoas, os momentos. 

Sou eu agora que cuido de ti. Como antes cuidaste tu de mim. 

 

Pai, agora que te sinto velho e mais cansado do que nunca, preciso de ti.

Como precisei desde o momento em que te ouvi cantar para mim - ainda na barriga da mãe.

Como precisei quando cresci e me tornei jovem, capaz de mudar o mundo.

Como precisei quando encontrei o meu caminho e garanti que dele fazias parte. 

Mas amanhã, meu velho Pai, sei que vou precisar ainda mais de ti.