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Sardinha Pequenina

A Sardinha Pequenina tem como propósito contar histórias de gente real, aliando o poder da palavra escrita à qualidade e originalidade dos produtos. As pessoas reais inspiram-nos!

Porque és Mãe

30.03.22

No meio do meu próprio caminho, eu finalmente percebi.

Descobri o motivo para seres dona dos dias.

De dias que se prolongam para lá das horas.

Entendi porque é que és capaz de tudo. Por todos.

Mesmo sabendo que as dúvidas te assolam. Te atormentam.

Entendi porque é que és perfeita em tudo. E igualmente imperfeita.

Capaz de desempenhar tantos e diferentes papéis.

Capaz de ires das lágimas às gargalhadas. Do grito ao colo.

Nunca tinha percebido como era possível amares tanto.

Como se o teu coração fosse um fundo poço. Túnel sem fim.

Apesar dos teus dilemas. Das tuas vontades. Dos teus desejos.

Que sempre conciliaste com os de tantos.

Por vezes em segundo plano. Mas sempre atriz principal.

 

És assim. Porque és Mãe.  

E só agora o sei porque também eu o sou.

Peito aberto

20.03.22

Desfaço-me. Enlaço-me. Refaço-me.

As vezes necessárias.

Sempre que a vida o determinar.

Sempre com coragem para avançar.

Para refazer planos.

Para desfazer nós.

Para fazer caminho.

De peito aberto.

Com coragem. Com valentia.

Sempre meu

07.03.22

Como nasci? De que são feitas as estrelas?

Mil vezes as perguntas. Mil vezes as respostas.

Sorri. E conta-me histórias.

Mostra-me fotos.

Senta-te ao meu lado.

Dá-me a mão.

Baloiça-me.

E dá-me beijos.

Sempre meu. Meu Pai. 

Carta ao meu velho pai

13.02.22

Pai, eu oiço a tua voz. Sinto o teu toque.

Quando estás perto, sinto o bater acelerado do coração da mamã.

Sei que estás aqui. Ansioso por conhecer-me. 

 

Pai, embala-me. Por aqui. Por ali. Durante longas horas.

Aconchega-me nas noites frias. Cuida de mim. E da mãe. 

Coloca-me nas tuas costas e vamos passear. 

Deixa-me gargalhar contigo. Sê o meu herói.

 

Pai, deixa que eu cresça rodeada de amor.

Apesar da curiosidade, da rebeldia e da insensatez: características da juventude.

Dá-me a certeza do teu conselho. Dá-me a certeza do teu carinho.

Para que não me perca. Para que encontre sempre rumo.

Dá-me espaço. Mas garante que nunca me sentirei só.

 

Pai, agora que caminho sozinha, e que da tua casa parti, não me largues.

Trilho a estrada com a certeza de que sei bem a tua morada.

Porque a ela rumarei sempre. Para ouvir o teu conselho. Para colher a tua sabedoria.

 

Pai, como és belo quando sorris. Ao ver os teus filhos. Ao ver os teus netos.

Tens nas tuas mãos as marcas da tua história. Da nossa história.

Trazes contigo as recordações. Os locais, as pessoas, os momentos. 

Sou eu agora que cuido de ti. Como antes cuidaste tu de mim. 

 

Pai, agora que te sinto velho e mais cansado do que nunca, preciso de ti.

Como precisei desde o momento em que te ouvi cantar para mim - ainda na barriga da mãe.

Como precisei quando cresci e me tornei jovem, capaz de mudar o mundo.

Como precisei quando encontrei o meu caminho e garanti que dele fazias parte. 

Mas amanhã, meu velho Pai, sei que vou precisar ainda mais de ti.  

Lição

17.01.22

Contigo aprendi que os segundos se podem perder no tempo.

E que uma hora pode ser uma eternidade.

Que o ar pode desaparecer.

Que o coração pode bater de mil formas diferentes.

Que o teu sorriso transforma o mundo.

E que há melodias que fazem parte da nossa pele.

Que os abraços podem curar.

E que os teus longos braços contêm o mundo.

Que há beijos cujo sabor não desaparece dos lábios.

São tatuagem perpétua.

Que os silêncios podem falar.

Que os sonhos podem ser desenhados com várias cores.

Que o tempo não silencia as cartas de amor.

E que seremos sempre dois, juntos, até sermos velhos.

Bailamos

14.01.22

Olhas-me e pegas na minha mão.

Enlaças-me no teu abraço e rodopias.

Sem parar. Sem motivo. Só porque segues ao som do teu coração.

E nesse ritmo, perfeito para os dois, bailamos.

 

Perco a noção do tempo. Do espaço.

E dançando, vais-me guiando.

Por aqui e por ali. Pela vida fora.

Ao som de diferentes ritmos. Sempre enlaçados.

 

Tropeçamos. Sem nunca pisar os pés um do outro.

Sempre prontos a seguir o som da banda sonora da nossa vida.

Ensinas-me os teus passos. E eu a ti.

Com a felicidade de sabermos rir juntos.

Sem pudor. Só por rir. De felicidade. Por bailarmos juntos.

Soltar amarras

03.01.22

Um dia largarei as amarras.

E vou deixar-te partir.

Vou dizer-te adeus e ver-te bater a porta.

 

Da janela, vou ver-te caminhar.

Encontrarás caminhos fáceis.

Outros mais difíceis e tortuosos.

Sozinho por vezes.

Ou de mão dada com alguém.

 

Durante a noite rezarei por ti.

Para que navegues de acordo com o vento.

Sempre soprado pela tua vontade.

E o meu coração vai ficar apertado em dias de temporal.

 

Mas quando não souberes voltar, usa o teu coração.

Ele seguir-te-á até ao meu colo.

Onde encontrarás sempre abrigo.

Onde encontrarás sempre paz.

Tia, Mulher, Flor

02.01.22

A minha tia nasceu num canto solarengo do quintal.

Brotou da terra.

E cresceu enquanto dançava com os raios de sol.

A chuva tornou-a mais bela e forte.

As suas pétalas têm a essência do carinho.

 

A minha tia é uma rosa: graciosa.

Mas igualmente selvagem.

Os seus espinhos são marcas. 

Tatuagens deixada pelas tempestades.

 

Ela também é uma violeta: o seu aroma tranquiliza-me.

As suas raízes contam a minha história.

 

A minha tia é também girassol.

De caule robusto, é imponente e majestosa.

Rainha do sol.

 

Ela é Tia. Ela é Mulher. Ela é Flor.

Mágico

30.12.21

Sopra bolas de sabão.

Joga durante horas.

Conhece truques e códigos.

Sabe sempre onde encontrar as melhores guloseimas.

E os seus ataques de cócegas podem durar horas.

Com pós mágicos, deslumbra-me.

Com gestos hábeis, fascina-me.

O meu tio é mágico.

Conhece as doses indicadas para me fazer feliz.

Uma dose de carinho.

Duas doses de traquinice.

Três doses de gargalhadas.

Natal

28.11.21

Há estrelas na rua. Por todo o lado.

Cintilantes. Mágicas. Belas.

São luzes que brilham.

São amigos. 

De antes. De agora.

São luzeiros. Faróis. Bússolas.

 

Cheiros e sabores.

Açúcar e canela misturam-se no paladar.

São recordações.

Pintadas a branco, verde e vermelho.

De gente. De locais.

Que não voltam. Que vivem guardados na memória e no coração.

 

As músicas ecoam por todo o lado.

Velhas melodias. Novos ritmos. 

Serão anjos a cantar?

Certamente apregoam a noite mais esperada.

A família: velhos e novos. Muitos ou poucos.

Anunciam as conversas. As gargalhadas. A barafunda das crianças.

O rebuliço da noite. A alegria do dia. 

 

O brilho, os aromas e os sons.

O passado e o presente.

Misturados. Enlaçados.

Num Natal feliz.

Andorinha

13.11.21

Com os braços abertos, ela rodopia.

Feita pássaro desamarrado. Feita andorinha.

Livre e feliz. Capaz de voar. 

Que doce é ver uma criança tornar-se andorinha.

"Mamã, mamã! Vou voar!"

Sorrio. Que doce cenário este.

Voa sempre. Nunca te esqueças que os teus braços são asas.

E que os teus sonhos conduzir-te-ão se seguirem presos a um coração valente.

Saudade

12.11.21

No silêncio, quando fecho os olhos.

Quando o teu cheiro me invade como se ainda aqui estivesses.

Quando sinto o calor da tua mão. Ele teima em fazer-se extinguir.

Quando o paladar grita por todos os sabores que emprestavas à comida.

Quando as flores desabrocham e as hortênsias ganham cor.

Quando cuido de um quintal que em tempos já foi por ti - e por outra geração - velado. Foi nele que me encontrei.

Há nele borboletas. E são brancas. 

Quando te imagino a rir descontroladamente. A tua gargalhada ecoa.

Quando me questiono sobre o teu conselho. A tua opinião. Sinto falta do teu carinho.

Quando me dou conta da ausência do teu amor. E que falta me faz!

Eras a única pessoa que vivia por mim. Ninguém, jamais, conseguirá amar-me assim.

Quando os outros chamam o teu nome quando me fitam.

Quando te vejo nos seus olhos, que me emprestam o meu reflexo.

Quando repito, impensadamente, as mesmas palavas e expressões que ouvi desde sempre.

Quando, sempre e mais uma vez, confirmo que sou o resultado de tantas mulheres que habitam em mim.

O sangue, a mente e o coração são mistura de tanto! Será magia? 

Quando eu te vejo no meu fruto. Tem tanto de mim, de ti, de nós. 

Mas, principalmente, quando os meus silêncios gritam por ti.

Tu és saudade. Em todos os momentos.

Código

11.11.21

Diz-me: podemos usar um código?

Para eu descobrir o teu humor. 

Dar-te espaço ou abraçar-te.

A cada amanhecer. A cada hora que passa. A cada anoitecer.

Pode ser simples ou complexo.

Um código só nosso.

Dissimulado entre gestos ou olhares

Clandestinamente partilhado entre nós.

Para que eu saiba sempre para que lado pende o teu coração.

Para que eu saiba sempre como cuidar de ti.

Dia de todos os Santos

02.11.21

Há um local onde posso estar contigo.

Onde só tu, no silêncio, me escutas.

Onde, sabendo que não estás, te julgo encontrar sempre.

A tua casa deixou de ser nossa.

E por isso tive de te procurar em outro local.

Percorri um longo caminho até finalmente te encontrar.

Revi a minha perspetiva sobre o chão que encerra histórias.

E, pouco a pouco, comecei a encontrar algum significado para a terra.

Para as pedras. Para as flores.

 

Quatro muros encerram o teu fim.

Guardam a tua história e a história de tanta gente.

São antepassados. Partes de nós.

Pergunto-me se cada lágrima lá deixada, entre quatro muros, chegará até eles.

Até ao céu. Onde, certamente, ouvem os murmúrios e as preces.

 

Olho para os rostos que se cruzam comigo.

Que, num ritual mágico, transformam saudade em flores.

Que tombam sobre lápides.

Que choram por quem já se foi.

Naquele terreno árido, onde poucas flores ousam brotar, descobri que há muito de nós.

De todos nós.

E que as perspetivas sobre locais e tradições podem mudar.

Assim o obriga a vida.

 

É bom saber-te em algum local.

Catequista

18.10.21

Numa roda feita aqui ou acolá.

Sentados em bancos de madeira ou de pernas cruzadas no chão.

Eles ouvem-te contar a mesma história de mil formas diferentes.

Uma história antiga e tantas vezes narrada.

Em que a personagem principal surpreende.

Tu transportas quem te ouve para tempos idos.

E adoças o coração dos que te rodeiam.

És capaz de transformar. Moldar. Mudar corações.

Plantar sementes em terrenos férteis ou áridos.

Regá-las com as tuas histórias, atos e exemplos.

E das sementes crescem sempre flores.

É a tua fé que as nutre. E as faz florescer.