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Sardinha Pequenina

A Sardinha Pequenina tem como propósito contar histórias de gente real, aliando o poder da palavra escrita à qualidade e originalidade dos produtos. As pessoas reais inspiram-nos!

O menino

09.11.22

Ouvi dizer que nasceu.

Menino cheio de luz.

Menino feito de esperança.

Veio trazer bondade.

E lembrar-nos do que somos feitos.

 

Na noite mais fria, pedi-lhe que te levasse fé.

Para que nunca te falte quando a estrada for sinuosa. 

Sussurrei, perante todas as estrelas do céu, que te levasse o meu abraço.

Para que o possas receber quando te lembrares dos dias velhos. 

E confessei-lhe a minha vontade de embrulhar o teu amanhã em felicidade.

Em desejos concretizados. Em momentos inesquecíveis.

Mamã: qual é o teu sonho?

17.10.22

Ela perguntou: "Mamã, qual é o teu sonho?"

Olhei para o seu rosto risonho e para os seus olhos curiosos.

O que deveria eu responder? Que exemplo poderia eu dar?

Já tive vários sonhos. Foram moldados ao longo do tempo.

Fiz e refiz vários objetivos. Rasurei projetos. Construí novos planos.

Mas, quando ela me inquiriu, soube que eu devia - e queria - ser exemplo.

Por mim. Por ela.

Para que ela saiba que dentro de um coração de mãe, cabem todos os sonhos do mundo.

Para que ela saiba que um coração que deseja muito pode tudo. 

Respirei fundo e contei-lhe um segredo.

Sorriu. E prometeu discrição.

Não sabe que lhe dei um pedaço da minha alma para guardar junto do seu coração pequenino.

Para fazer dos meus sonhos, combustível para os seus.

Menina Mãe

03.10.22

Precisas de colo?

Onde deitar as lágrimas.

Onde deixar a menina que deixaste de ser.

Onde encontrar a mulher que agora nasce.

Onde largar o corpo que antes era só teu.

 

Precisas da minha voz?

Para te garantir que não há caminhos certos e errados.

Para te segredar que também tu brotaste agora.

Para te dizer que, pouco a pouco, vais descobrir ser o mundo.

 

Precisas da minha mão?

Quando o cansaço se apoderar de ti.

Quando a solidão te assombrar. E o medo de falhar.

Para garantir que não te perdes nesse estreito caminho.

Onde segues descalça e frágil. A aprender a ser.

 

Precisas do meu silêncio?

Capaz de te abraçar quando sentires as dores do teu filho.

E sentires que são tuas, afinal.

Quando nos teus ombros sentires o peso de seres mais.

E quando descobrires que afinal, só tu bastas.

 

Ao teu filho. E a ti.

Essa gente

13.09.22

Gosto de gente desalinhada. Que teima em desenhar as suas próprias rotas. Que dança pela vida. Que canta em dias de chuva. E que se emociona com gestos simples.  

 

Gosto de gente que surpreende. Que, por parecerem ser nada, são tudo. Pelo que são. Pelo que dão.

 

Gosto de gente com voz. Com alma. Com mente irrequieta. Gente que é gente. Que faz da sinceridade coluna vertebral. E da valentia o compasso do coração.

 

Gosto de gente de sorriso fácil. De lágrima honesta. De olhos que falam. Gente que grita. Que sorri. Que chora. Que erra. Que beija. Que abraça. Que perdoa.

 

Gosto de gente cujos pedestais são feitos de respeito dos outros. Construídos com o carinho daqueles que conquistaram. Certamente essa gente, que é gente especial, vive mais perto do céu por fazer a diferença na terra.

Escrita terapêutica: como matar fantasmas com papel e lápis?

28.07.22

Já agarrou num papel, num lápis e escreveu livremente? Sem se preocupar com julgamentos, com a estrutura do texto ou com as regras gramaticais? Sentiu que, após escrever, o coração ficou mais leve e a mente mais organizada? Então já experienciou os benefícios da escrita terapêutica!

A escrita terapêutica consiste no ato de utilizar a escrita como ferramenta de terapia, uma vez que através dela é possível aprender a lidar com a ansiedade, aumentar o autoconhecimento, compreender emoções e detetar necessidades. 

Foi na escrita que eu me (re)encontrei: pessoal e profissionalmente. Por esse motivo, mantenho alguns hábitos que me ajudam a produzir regularmente conteúdo - muito do qual é partilhado através da Sardinha Pequenina - e que aqui partilho:

1) Escolho um local e momento para escrever: eu escrevo quase sempre à noite e em silêncio. Quando todos estão a dormir, eu pego no papel, no lápis e escrevo. É a fase do dia em que me sinto mais capaz de partilhar o que sinto e o que penso.
2) Registo todas as ideias: os temas sobre os quais escrevo surgem naturalmente ao longo do dia. Para não me esquecer de nenhum tópico, uso o telemóvel ou um pedaço de papel para registar as ideias e mais tarde, com calma, escrevo sobre elas.
3) Escolho o suporte onde quero escrever: eu elegi um pequeno caderno verde. Mais tarde, após escolher os textos que quero partilhar publicamente, escrevo-os no computador. 
4) Escrevo sem regras e sem julgamentos: quando escrevo, faço-o sem "filtros". Escrevo de forma simples e sem medo do que outros poderiam pensar ao ler os meus textos. 
5) Respeito o meu próprio tempo: nem sempre consigo escrever quando quero. Quando assim acontece, paro e tento mais tarde. 

Acredito que escrevemos para descobrir quem somos, para (re)inventarmos as nossas vidas e para matarmos os nossos fantasmas. Por isso, escreva. Vai valer a pena!

A neta da minha avó

06.07.22

A neta da avó nasceu.

E os dias não mais foram iguais.

Tal como o céu. Tal como o aroma das flores.

Tudo mais belo. E intenso.

 

A neta da avó tornou-se tesouro precioso.

Protegida. Amada. Cuidada.

E o coração tornou-se casa: onde todos os momentos se encaixavam.

 

A neta da avó cresceu.

Ao ritmo das cantigas de sempre.

A molhar os pés na água da mangueira.

A misturar sabores com a colher de pau.

A ensopar o pão na tigela de leite.

A deleitar-se com gemas com açúcar.

A fazer magia com as claras, transformando-as em castelos deslumbrantes.

 

A neta da avó embarcou em aventuras.

Em pequena, num autocarro que percorria a cidade, fingia voar.

Já grande, aos ombros da vida corrida, guardava na memória o toque dos velhos caracóis brancos enrolados nas suas pequenas mãos de cabeleireira.

E nesse momento sabia que podia ser quem quisesse: cabeleireira ou heroína.

 

Hoje, a neta da avó deve-lhe muito.

Deve-lhe, principalmente, a lembrança dos seus eternos olhos verdes.

Cheios do mundo que quis ver e contar à sua neta.

Cheios de dignidade que a dura sina lhe impôs.

Mas sempre, sempre, cheios de amor.

 

A neta da avó guardará, para sempre, memória sua.

Sou eu a neta. E tu, a minha Avó.

Neto

05.07.22

Um neto é um livro de aventuras.

Nele, um pirata. Um príncipe. Um ninja.

Audaz espadachim. Valente herói.

 

Um neto é uma surpresa constante.

Assombro ao contemplar as cores do arco-íris.

Fascínio ao observar as mil texturas dos insetos.

 

Um neto é doçura.

Prazer de um beijo peganhento.

Gargalhada ao ver um bigode de leite.

E o nariz pintado de massa de bolo.

 

Um neto é carinho.

É a mão na mão.

E o abraço onde cabe o mundo inteiro.

Aqui, para mim

01.06.22

Pelo tempo. Pela atenção.

Pelo cuidado. Pelo carinho.

Pelo abraço. Pelo beijo.

Pelos sorrisos. Pelas gargalhadas.

Pelas lágrimas partilhadas.

Pelas imperfeições – minhas e tuas – que decidimos moldar.

Pelos conselhos. Pelos momentos.

Pelas conversas. E pelos silêncios.

Nos dias de sol. Nos dias de chuva.

Por estares aqui. Para mim. Sempre.

Obrigado!

Treinador

24.05.22

Rola a bola.

Saltitona e inquieta.

Desenhas no papel a tática.

E, feito mágico, transformas o melhor de mim em resultados.

Num campo em que a igualdade e a tolerância fazem parte da estratégia e são garantia de vitória.

Leio no teu rosto a alegria de me veres crescer.

Neste campo que é maior do que as quatro linhas que o limitam, ajudas-me a ter um coração que bate no compasso certo: no desporto e na vida.

Professora

23.05.22

Contigo aprendi.

Os números. As letras.

Hoje sei mais sobre o mundo.

Hoje sei mais sobre tudo.

Hoje sei, principalmente, que o carinho traz ensinamentos que duram para sempre.

Cada lição regada de paciência.

Cada aula repleta de ternura.

Pescador de sonhos

05.04.22

Preparo a cana e lanço-a.

Puxo com força enquanto cerro os olhos.

Pesco um foguetão. Vejo um planeta também.

Atiro novamente. E pesco um palácio.

O meu avô sorri e diz-me para lançar novamente.

Durante a pescaria, ou enquanto o pião roda no chão, encontro sonhos.

Pesco-os. Desenrolo-os.

E o avô vai colorindo o meu mundo.

Grita e sorri. Bate palmas.

Inventa e constrói. Arranja e desmancha. Faz de conta.

Este avô que é também criança quando ao meu lado se senta.

E que cerra os olhos para guardar no coração os momentos que vive comigo.

Embalo

01.04.22

Enquanto a embalo, ela olha fixamente para mim.

O que procura ela?

Lê nas marcas do meu rosto o que sinto por ela.

Vê nos meus olhos o meu coração.

Repara no sorriso que não consigo esconder.

E ouve a ligeira canção que eu vou trauteando.

É um olhar sem critica. É um olhar que não dói. É um olhar que não me quebra.

Enquanto a embalo, até que os olhos dela cedam finalmente, a minha filha fita-me.

E naquele olhar, entre nós, quero partilhar o mundo com ela.

E naquele aconchego só nosso, quero dizer-lhe que a embalarei sempre.

Com carinho.

E cantarei. Cantarei sempre.

Para a embalar. Para a confortar. Para lhe dizer que a amo.

Porque és Mãe

30.03.22

No meio do meu próprio caminho, eu finalmente percebi.

Descobri o motivo para seres dona dos dias.

De dias que se prolongam para lá das horas.

Entendi porque é que és capaz de tudo. Por todos.

Mesmo sabendo que as dúvidas te assolam. Te atormentam.

Entendi porque é que és perfeita em tudo. E igualmente imperfeita.

Capaz de desempenhar tantos e diferentes papéis.

Capaz de ires das lágimas às gargalhadas. Do grito ao colo.

Nunca tinha percebido como era possível amares tanto.

Como se o teu coração fosse um fundo poço. Túnel sem fim.

Apesar dos teus dilemas. Das tuas vontades. Dos teus desejos.

Que sempre conciliaste com os de tantos.

Por vezes em segundo plano. Mas sempre atriz principal.

 

És assim. Porque és Mãe.  

E só agora o sei porque também eu o sou.

Peito aberto

20.03.22

Desfaço-me. Enlaço-me. Refaço-me.

As vezes necessárias.

Sempre que a vida o determinar.

Sempre com coragem para avançar.

Para refazer planos.

Para desfazer nós.

Para fazer caminho.

De peito aberto.

Com coragem. Com valentia.