A neta da avó nasceu.
E os dias não mais foram iguais.
Tal como o céu. Tal como o aroma das flores.
Tudo mais belo. E intenso.
A neta da avó tornou-se tesouro precioso.
Protegida. Amada. Cuidada.
E o coração tornou-se casa: onde todos os momentos se encaixavam.
A neta da avó cresceu.
Ao ritmo das cantigas de sempre.
A molhar os pés na água da mangueira.
A misturar sabores com a colher de pau.
A ensopar o pão na tigela de leite.
A deleitar-se com gemas com açúcar.
A fazer magia com as claras, transformando-as em castelos deslumbrantes.
A neta da avó embarcou em aventuras.
Em pequena, num autocarro que percorria a cidade, fingia voar.
Já grande, aos ombros da vida corrida, guardava na memória o toque dos velhos caracóis brancos enrolados nas suas pequenas mãos de cabeleireira.
E nesse momento sabia que podia ser quem quisesse: cabeleireira ou heroína.
Hoje, a neta da avó deve-lhe muito.
Deve-lhe, principalmente, a lembrança dos seus eternos olhos verdes.
Cheios do mundo que quis ver e contar à sua neta.
Cheios de dignidade que a dura sina lhe impôs.
Mas sempre, sempre, cheios de amor.
A neta da avó guardará, para sempre, memória sua.
Sou eu a neta. E tu, a minha Avó.