Na língua de Deus,
Mãe escreve-se com o brilho das estrelas,
amor infinito
e um punhado de carinho.
Deus deu à palavra Mãe
o aroma das flores
e a doçura do mel.
Quis Ele que Mãe fosse especial
e por isso ordenou aos anjos que distribuíssem
afeto e valentia a quem usasse a palavra
para que, na terra, se saiba que os braços de uma Mãe
são os braços de Deus.
Estas ruas são estreitas.
Mas nelas cabe o carteiro.
E o funcionário que varre.
Cumprimentam quem passa.
Quem contempla as cores e as formas.
Quem observa a mistura do velho e do novo.
Saberão que estas ruas são velhas?
Tão velhas que têm gravadas mil histórias?
Eu ainda vejo a velha latoaria do Tibita e do Toneca.
Trago em mim os cheiros. E a recordação do espaço.
A loja do Darvim está aberta.
Eu, menina, estou junto à montra a ver as noivas saírem da Igreja de São Pedro.
Na barbearia, junto ao café, apara-se o cabelo e o bigode.
Os vizinhos abastecem-se no talho do prédio Americano.
Lá ao fundo, a Fortaleza. E o mar – aqui tão perto.
Hoje sobra pouco. Sobra a mercearia do João da Galvoa. Resistiu ao tempo.
Nela julgo ver a minha avó com a menina neta de mãos dadas.
Trazem os sacos cheios. E enquanto caminham, vão deixando parte de si nas ruas.
Elas estão gravadas nestes Quatro Cantos - agora tão transformados pelo tempo.
E são, inevitavelmente, parte da minha pele.
Alguém que lhes diga que a esmola não satisfaz.
Não resolve. E não cala.
Quem trabalha. Quem tem filhos. E quem tem sonhos.
Alguém que lhes diga que a esmola não satisfaz.
Não apaga a lágrima de quem se vê com pouco.
Não silencia o grito da fome. E não faz desaparecer o desespero.
Alguém que lhes diga que a esmola não satisfaz.
A criança a quem não se pode dar mais.
O jovem que trabalha e que quer um mundo justo.
O velho reformado que quer viver com decência.
Alguém que lhes diga que a esmola não satisfaz.
Só a paz. A justiça. E a dignidade.
Após a chuva. Após o frio. Chega a cor e o perfume. Regressa o chilrear dos pássaros. O bater das asas das borboletas. E o tão esperado calor do sol. É hora de semear boas energias. Fazer crescer sorrisos. E colher paz interior.
Que esta Primavera - que hoje começa - aqueça o nosso coração!