Preparo a cana e lanço-a.
Puxo com força enquanto cerro os olhos.
Pesco um foguetão. Vejo um planeta também.
Atiro novamente. E pesco um palácio.
O meu avô sorri e diz-me para lançar novamente.
Durante a pescaria, ou enquanto o pião roda no chão, encontro sonhos.
Pesco-os. Desenrolo-os.
E o avô vai colorindo o meu mundo.
Grita e sorri. Bate palmas.
Inventa e constrói. Arranja e desmancha. Faz de conta.
Este avô que é também criança quando ao meu lado se senta.
E que cerra os olhos para guardar no coração os momentos que vive comigo.
Enquanto a embalo, ela olha fixamente para mim.
O que procura ela?
Lê nas marcas do meu rosto o que sinto por ela.
Vê nos meus olhos o meu coração.
Repara no sorriso que não consigo esconder.
E ouve a ligeira canção que eu vou trauteando.
É um olhar sem critica. É um olhar que não dói. É um olhar que não me quebra.
Enquanto a embalo, até que os olhos dela cedam finalmente, a minha filha fita-me.
E naquele olhar, entre nós, quero partilhar o mundo com ela.
E naquele aconchego só nosso, quero dizer-lhe que a embalarei sempre.
Com carinho.
E cantarei. Cantarei sempre.
Para a embalar. Para a confortar. Para lhe dizer que a amo.