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Sardinha Pequenina

A Sardinha Pequenina tem como propósito contar histórias aliando o poder da palavra escrita à qualidade e originalidade dos produtos e serviços.

24
Mai21

Para quem amou e errou

Para quem amou.

Para quem ousou.

Mas errou.

Para quem, com coragem, continua a sonhar.

Para quem quer amar.

E recomeçar.

Encontrar um ninho para se aconchegar.

Descobrir um abraço para se aninhar.

Para sempre.

20
Mai21

Sempre ligeira

Sai de casa pela manhã.

A gingar vai pela rua e cumprimenta aqueles que por ela passam.

Pára no café e toma a bica. Talvez coma uma sandes.

Sentada, observa todos.

Dali parte para qualquer programa.

Porque ela é assim.

Põe tinta no cabelo. Faz ginástica. Bebe martini. É vaidosa.

Diz o que pensa. Não pede desculpa a ninguém.

Nos dias bons e nos dias maus, segue em frente. Com ou sem dificuldade.

Mas segue sempre, sempre ligeira.

09
Mai21

Mãe flor

As mães são como flores.

São cheirosas e belas.

Bebem da chuva a experiência.

Aprendem que o sol é a sua alma.

Transformam as suas raízes em fortalezas.

Sob as suas folhas há sempre um lugar seguro.

Aparentemente frágeis, resistem a ventos e vendavais.

Podem ser de mil cores e formas.

Mas belas, sempre belas!

08
Mai21

Casa

Uma casa é um ninho.

Quente, acolhedora e aconchegante.

Construída ramo a ramo por quem lá habita.

Repleta de memórias e de sonhos. 

Com cheiro a bolos.

Com aroma a roupa lavada.

Onde, havendo um quintal, os pés se molham com a água da mangueira.

Onde, havendo terra, se vê a vida surgir em cada pétala.

Há um dedo na massa do bolo. Há a manta velhinha e gasta.

Há o local secreto onde se guardam cartas. Há o local preferido para relaxar.

Há um cão que ladra e rói o chinelo. Há a sardanisca que teima em aparecer.

Nas paredes ficam gravadas as conversas.

No chão ficam marcadas as pegadas de quem lá nasce e cresce.

Ecoam os risos e as lágrimas. 

Na nossa casa fica gravada a nossa história.

07
Mai21

Receita para o recomeço

Há um tempo em que tudo parede confuso.

Em que os suspiros preenchem o silêncio.

E em que a cabeça teima em não repousar.

 

Depois chega o momento.

Em que tudo tem de mudar. 

Em que tu tens de te transformar.

 

É o momento de inspirar e expirar.

Encontrar forças bem no meio do peito e erguer a cabeça.

Puxar as mangas para cima. E recomeçar.

 

Há recomeços difíceis. 

Mas sempre, sempre possíveis.

05
Mai21

Avô Tó

Avô Tó usa boina e camisa aos quadrados.

Põe as mãos nos bolsos e, a assobiar, desce a rua.

Lá vai ele: pequeno e ligeiro.

Deixa em casa a esposa: fica a arrumar a cozinha e a tratar da roupa.

Ele dá-lhe um beijo, bate a porta e começa a caminhar.

Aguardam-no na rua. Sempre à mesma hora. Faça sol ou chuva.

Todos os dias discute a meteorologia, critica o Ministro das Finanças e debate as últimas notícias.

É presença assídua no café do bairro. No banco vermelho da rua. Na mercearia do canto.

Está sempre atualizado. Sabe sempre tudo. Tem sempre razão.

Avô Tó é teimoso. Chateia-se com o vizinho. Arrelia-se com o compadre.

Resmunga, amua e volta, de mãos nos bolsos, para casa.

Mas, no outro dia, lá vai ele novamente.

Avô Tó gosta de contar histórias. Sabe muitas!

Coloca o neto nos joelhos e conta-lhe, durante horas a fio, histórias de antigamente.

Fala-lhe sobre tudo. Descreve pessoas e lugares. Refere pormenores.

Todos os dias, uma nova história.

Avô Tó é mistura de resmunguice e doçura. Teimosia e imaginação.

Avô Tó é velho quando sai à rua.

Mas é novo quando se perde nas suas histórias e se imagina novamente no mar.

Quando se imagina novamente a descer a rua a correr.

Quando se imagina menino nos joelhos do seu pai, a ouvir histórias de antigamente.

03
Mai21

Pode um beijo sarar um ferida?

As mãos pintadas. Espantada, e até preocupada, disse-me:

- "Mamã, olha! As mãos!"

Sorri e disse-lhe que não se preocupasse.

Durante o banho, como por magia, a tinta desapareceria.

Assim aconteceu.

 

Ontem, com um sorriso rasgado, disse-me:

- "Mamã, olha! O dedo! Podes tirar?"

Dei uma gargalhada. Tinha no dedo uma pequena ferida.

Ela pensou que eu seria capaz de fazer desaparecer a lesão.

Tal como aconteceu com a tinta.

Beijei o seu dedo e sorri.

 

De facto, aos olhos dos filhos, as mamãs são super-heroínas!

Capazes de resolver qualquer problema. De tratar qualquer ferida.

 

O ferimento permaneceu no frágil dedo.

Mas o meu beijo confortou, certamente, o seu coração de menina.

E a sua fé em mim aqueceu o meu coração de mãe e mulher.

01
Mai21

No dia em que te fores

Não vai haver gravidade.

A terra vai fugir e o ar vai extinguir-se.

Vou perder o equilíbrio e vou deixar de saber de mim.

Nesse dia: o dia em que te fores.

Vão sobrar lágrimas. E sorrisos ternos de recordação.

E cartas. Várias cartas de amor - que contam a nossa história.

 

No dia em que te fores - se fores antes de mim - quero que sejas velhinho.

Que te vás serenamente. Num sopro leve. 

E que eu esteja ao pé de ti - como sempre estive.

 

No dia em que te fores - e se eu puder ir contigo - irei de bom grado.

Porque nesse dia morrerá metade de mim.

O eu mais sensato. A metade melhor. A que eu amei sempre mais.

Peço a Deus para que, no dia em que te fores, eu possa ir contigo.

Se formos velhinhos. Se os nossos já de nós não precisarem neste mundo.

Seguiremos juntos, estrada fora, rumo a quem já nos espera. No outro lado. 

 

Seremos estrelas. Seremos flores. 

Mas, no dia que te fores, e eu contigo for também, renasceremos juntos.